sexta-feira, 4 de março de 2011

Café - a perfeição efêmera

Outro dia sentei-me calma num lugarzinho charmoso, já ansiosa pela chegada de uma xícara de um espresso perfeito. E comecei a pensar sobre porque algo tão efêmero como o café, que não pode demorar mais do que uns poucos minutos pra ser degustado, pode ter se tornado objeto de tamanha adoração, de tamanha dedicação desde o cultivo até a extração. Por que ele é tema de músicas, de pinturas. de blogs? Por que um café mereceria aquele tipo de atenção que demanda a perfeição? Oras... porque o café é como uma obra de arte efêmera. Ele toca os sentidos de uma maneira profunda. Ele fala ao tato, ao olfato, ao olhar. Existe algo de belo numa xícara perfeita. E parece ser ainda mais belo porque efêmero. Cada vez mais tenho a convicção - mais sentida do que pensada - de que são as coisas efêmeras as que mais importam. Nada contra as coisas duradouras. Mas o que importa nas coisas duradouras é justamente o uso efêmero que delas fazemos: é o conforto da cama a cada vez que se deita nela, é o coração que bate com cada novo beijo do já duradouro amor, é o nosso ser que persiste no decorrer de nossa vida, mas que só "é" para nós nesse momento, nesse agora, mesmo que traga consigo todo seu passado, todas as emoções já vividas, as ideias já pensadas. E o que dá graça a essa existência senão esse conjunto de efêmeros, que vem e que vão, e que sempre que surgem, novos ou velhos, nos fazem sentir prazer em viver.

6 comentários:

Isabela Raposeiras disse...

Essa obra de arte, ou da ciência, como gosto de dizer, se reinventa a cada xícara. Não é maravilhoso?!!
Lindo post.
Bons cafés!
Isabela Raposeiras

Raquel Weiss disse...

Isabela, é uma alegria enorme saber que você passou por aqui. Afinal, quando penso na perfeição sempre reiventada do café, nunca deixo de pensar nas xícaras que provei no Coffee Lab [um dos lugares de que sinto muita falta desde que me mudei de SP], que, costumo dizer aos amigos, não é apenas um lugar onde o café é tratado com o máximo respeito, mas também onde ele adquire notas de precisão, de perfeição, de beleza mesmo. É uma obra da ciência que acaba virando arte.

Café & Conversa disse...

O seu post me lembrou as obras de arte feita com areia colorida pelos monges budistas do Nepal. São mandalas belíssimas que são destruídas no momento em que estão prontas. É um exercício sobre a efemeridade de tudo e o desapêgo. E viva o café : )

Viviane disse...

Oi Raquel, tudo bem?
Você tem um e-mail de contato?
Obrigada,
Viviane

Raquel Weiss disse...

Oi Viviane, desculpe a demora em responder. Meu email é weiss.raquel@gmail.com

Unknown disse...

"Um dia frio, um bom lugar para ler um livro e o pensamento lá em você" com o devido café.