quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Café na terra do Chá









Quando se pensa em Inglaterra, logo vem à cabeça uma de suas mais famosas "instituições": o chá das 5. Trata-se de uma instituição ainda bastante vigorosa, afinal, como pude constatar em minha primeira e recente viagem àquelas terras, por volta desse horário todos os estabelecimentos do gênero encontram-se lotados. E nas mesas, vê-se mesmo a famosa combinação "tea and scones". No entanto, talvez em uma proporção igual ou maior à de chá, vemos também numerosas xícaras de café, whether black or latte, acompanhadas de todo tipo de quitute. Mas, nos outros momentos do dia, o café parece reinar absoluto: no café da manhã, que durante a semana parece mais com o continental breakfast do que com o tradicional "english breakfast", no meio da manhã, depois do almoço, no meio da tarde ou até após o jantar. Trata-se de um hábito também já bastante enraizado. E há uma coisa bastante na moda por lá: o fair trade coffee. Não é raro ver plaquinhas na frente dos estabelecimentos assegurando que os cafés ali servidos foram comprados por vias que garantem um padrão de negociação justo. E não apenas nos locais que servem o cafezinho, mas também nos vários locais dedicados exclusivamente à venda do grão. Aliás, esse é outro fato curioso. Nas casas que frequentei, pude observar que a preferência é pelo grão inteiro, que é moido em casa, na hora, contribuindo pra ter um aroma mais intenso. Os cafés de origem costa-riquenha ainda parecem mais populares por lá do que os brasileiros, embora estes ganhem em fama, o que os torna mais caros. Em uma das fotos abaixo, tirada na casa da famíla Watts-Miller, em Bristol, pode-se ver o moedor mais utilizado por lá, bem como o modelo de cafeteira doméstica mais popular: a cafeteira francesa, que produz um café menos encorpado que o da de espresso ou da famosa "italiana", mas mais encorpado que o da cafeteira de filtro.


Eu bem que tentei atualizar o blog durante a viagem, mas o tempo foi curto demais, então, já de volta pra casa, faço um breve balanço dos cafés mais marcantes da viagem, mostrando algumas fotos.


O primeiro lugar realmente impressionante, talvez um dos mais marcantes, foi no Bibury Court, que é um hotel com um café aberto a visitantes situado numa mansão do século XVIII, situado na minúscula cidade de Bibury, na região de Costwold, entre Bristol e Oxford. Em meio a uma natureza realmente exuberante, com árvores e riachos, o café fica num salão elegante, com lareira, poltronas delicadamente revestidas de couros o tecido floral, dando ao visitante a impressão de que está sendo recebido em uma casa. Naquele dia extremamente frio e chuvoso, aquela magnífica xícara de latte [enorme, muito cremoso] ficou realmente cravada na memória. Poderia passar ali o resto do dia, olhando a paisagem e gozando da companhia de Elizabeth e William, os maravilhosos "cicerones" que me fizeram ter momentos realmente incríveis em Bristol. As fotos, no sentido horário, são a 4 e a 6. Para saber mais sobre o local, é só dar uma olhadinha no site e suspirar de vontade:

Outro lugar bastante interessante é o Caffé Nero, uma rede espalhada por vários lugares da Inglaterra, que serve um café de excelente qualidade. Dentre aqueles que tive a chance de frequentar, o mais marcante foi aquele que fica dentro da Berghan Books, em Oxford. Depois de passar umas boas horinhas olhando o fantástico acervo da livraria, a parada no café é mesmo uma experiência que não se deve perder, experiência que alias repeti mais de uma vez. Lembro bem do primeiro dia. Era o primeiro dia de sol desde que chegara, o que me fez acordar de muito bom humor. Mas o sono ainda era forte. Caminhei um tanto pelas ruas ainda vazias de Oxford, tentando conhecer um pouco mais a cidade, buscando desesperadamente por um lugar em que pudesse beber um café para me aquecer e, sobretudo, para acordar, pois teria um dia cheio pela frente. Eu só poderia entrar na Bodleian Library às 09, e descobrir a Berghan já aberta aquela hora foi a melhor surpresa. Carregada com os novos livros recém comprados, sentei na mesa do café, acompanhada de uma linda xícara de café e um muffin de laranja com pecã [foto 3]. Naquela mesinha de madeira, batia um fio de sol e, erguendo a cabeça, via pela janela o conjunto arquitetônico que provavelmente é o mais representativo de Oxford, a frente da Bodleian e, ao lado, o Sheldonian Theatre com sua magnífica cúpula [foto 5]. Naquele momento, o fato de só poder entrar na biblioteca depois das 09 deixou de ser um problema, pois ficar sentada naquela mesa, bebendo café, e lendo as minhas novas "aquisições" me fazia ter a impressão de que o tempo parara. Acho que foi por isso que não consegui ter tempo de atualizar o blog... a atmosfera era tão absorvente que a cabeça parecia habitar outro mundo.