sexta-feira, 4 de março de 2011

Café - a perfeição efêmera

Outro dia sentei-me calma num lugarzinho charmoso, já ansiosa pela chegada de uma xícara de um espresso perfeito. E comecei a pensar sobre porque algo tão efêmero como o café, que não pode demorar mais do que uns poucos minutos pra ser degustado, pode ter se tornado objeto de tamanha adoração, de tamanha dedicação desde o cultivo até a extração. Por que ele é tema de músicas, de pinturas. de blogs? Por que um café mereceria aquele tipo de atenção que demanda a perfeição? Oras... porque o café é como uma obra de arte efêmera. Ele toca os sentidos de uma maneira profunda. Ele fala ao tato, ao olfato, ao olhar. Existe algo de belo numa xícara perfeita. E parece ser ainda mais belo porque efêmero. Cada vez mais tenho a convicção - mais sentida do que pensada - de que são as coisas efêmeras as que mais importam. Nada contra as coisas duradouras. Mas o que importa nas coisas duradouras é justamente o uso efêmero que delas fazemos: é o conforto da cama a cada vez que se deita nela, é o coração que bate com cada novo beijo do já duradouro amor, é o nosso ser que persiste no decorrer de nossa vida, mas que só "é" para nós nesse momento, nesse agora, mesmo que traga consigo todo seu passado, todas as emoções já vividas, as ideias já pensadas. E o que dá graça a essa existência senão esse conjunto de efêmeros, que vem e que vão, e que sempre que surgem, novos ou velhos, nos fazem sentir prazer em viver.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Good Coffee and Good Vibes

Fim de tarde de primavera, com arzinho fresco. Bate aquela fome, e a vontade de deixar o computador um pouco de lado, e simplesmente sentar em um lugar bacana, comer uma coisinha, e ler um livro. Achei que o melhor a fazer era ir num lugar aqui do lado de casa, que se afirma como um "restaurante natural", [cujo nome mencionei na primeira versão da postagem, mas que agora acho mais "delicado" não mencionar... A Veja já o indicou diversas vezes como um dos melhores da categoria. Entro, dou uma olhada, e uma senhora que estava sentada levanta-se demoradamente e então pergunta, com aquela cara de poucos amigos "pois não?". Pergunto se tem algum lanche, algum salgado, algo assim. Ela simplesmente responde "não, não trabalhamos com salgados". E volta a sentar-se na mesa. Eu tento mais uma vez: "então não tem nada pronto, que eu possa comer agora?". Ela, já sentada, secamente devolve "não". Talvez tenha se sentido ofendida  pela minha ignorância de achar que num "restaurante natural" teria algo como um "salgado", porque vai ver ache que salgado é sinônimo de coxinha, e imagina que um lugal cool, natural, vai ter uma coisa dessas. Ora, pois. Onde eu morava antes havia uns 4 restaurantes vegetarianos que tinham salgados naturais maravilhosos, sucos de clorofila, e o melhor um atendimento de primeira. É verdade que estou tentando achar uma desculpa para um comportamento que não tem como se justificar. Já havia entrado naquele lugar, que também é uma mercearia, umas duas ou três vezes, nunca encontrei o que buscava, e sempre fui pessimamente atendida por essa senhora rabugenta. Sério, eu tenho preguiça desse pessoal metido a muito alternativo, que se investe de ares de superioridade, e se esquece que mais do que aquilo que você, o que lhe define é o que você é o que você sente. Mais saudável que um pão integral é um sorriso, é a vontade de viver, é a gentileza. Saí de lá me segurando pra não dizer nada, respirando fundo pra conter a raiva, jurando que aquilo havia estragado meu dia.

Mas ainda estava com fome, e ai lembrei de um lugar pelo qual eu havia passado há umas duas semanas, uma loja-café, que então me parecera acolhedor. Andei mais uns três quarteirões e cheguei lá. Algo impressionante aconteceu. Foi colocar os pés no lugar, e de um instante a outro toda a raiva havia passado, senti como se fosse outra pessoa.  Além da loja de roupas na parte da frente, há um café com uns três ambientes diferentes. Eu não tive dúvida, sentei num sofá na parte dos fundos, integrada com um quintal deliciosamente autêntico. Tudo muito simples, flores em latinhas de leite condensando, cadeiras cobertas com mantas, elegantemente simples. Parecia que eu estava na casa da minha avó, a casa em que ela morava quando eu era criança, mas, ao mesmo tempo, como se essa casa fosse num daqueles idílicos lugares em que se sabe viver bem, naquela Itália ou França dos filmes. Sensação essa reforçada pela excelente seleção de músicas que tocavam ao fundo. 
Pra começar, um sanduiche gratinado e um suco de laranja. Enquanto eu lia calmamente meu livro no confortável sofá branco e via os passarinhos brincarem no quintal, ja senti o cheiro da laranja sendo espremida e do sanduiche começando a esquentar. Suco doce, sanduiche suculento. Depois, mais por gula do que por fome, tive que pedir o "bolo do dia", um bolo de  cenoura que veio macio e ainda morninho, com gosto de afeto. E um "pingado", que é como se chama aqui em Porto Alegre o que em São Paulo se chama "espresso com leite" [e o latte tem o nome de "cortado"], que veio servido numa xícara fofa, com uma alça daquelas ideais, que não queimam a mão, acompanhado de bolachinhas. O atendimento foi simplesmente impecável, nem daqueles invasivos que não te deixam terminar direito a comida, nem daqueles que te deixam esperando feito bobo. Daquele que sabe te respeitar, que te faz sentir acolhido e com vontade de voltar. Ah... eu já intui isso quando percebi que ali não tem um balcão, mas uma "cozinha" aberta, que te faz sentir convidado na casa de um amigo. E se você também ficou com vontade de conhecer esse espaço com o singelo nome de "lugar maior", ele fica na rua Felipe Camarão, n. 224, em Porto Alegre, onde agora fiz minha morada. Quem estiver longe, pode dar uma espiada no blog: http://lugarmaior.blogspot.com/   Mas, o mais importante é descobrir um "lugar maior" perto de você, porque o que faz a vida ter graça são mesmo esses pequenos grandes momentos que são capazes de mudar o teu humor, transformar sua "energia", afinal, good vibes são essenciais para um café verdadeiramente bom.

domingo, 12 de setembro de 2010

Um dia perfeito: Um delicioso café depois de comer a Mônica Bellucci




Já faz um bom tempo que não posto por aqui... hoje retomo as postagens, e o faço compartilhando uma experiência bastante simples, que retrata meu novo cotidiano, aqui em Porto Alegre. Já faz pouco mais de um mês que a capital gaúcha passou a ser minha nova cidade, e, como não poderia deixar de ser, o passeio por suas ruas sempre é feito com o objetivo explícito ou implícito de encontrar lugares interessantes para provar um bom café. E nesse caso, acabo parecendo criança em parque de diversões: os lugares são muitos, um mais atraente que o outro. Estou vivendo aquele momento em que cada vez que ponho os pés para fora de casa, acabo fazendo uma descoberta nova. E foi isso o que aconteceu há poucos dias. Enquanto me encaminhava à simpática "feira modelo" que acontece numa rua aqui perto [que começa às 14 e vai até as 20!], com produtos fresquinhos vendidos diretamente pelos produtores, bateu aquela fominha. No caminho, vi um lugar chamado Pizza do Pão [ www.pizzadopao.com.]. Achando que se tratava de uma pizza feita de pão, entrei no lugar pra descobrir a novidade, mas descobri que se trata de uma pizza tradicional, e que "pão" é o apelido do dono. Tudo bem, nada de novidade, mas o lugar é uma graça, então, resolvemos ficar mesmo por ali. Mas a surpresa mesmo estava no cardápio. Dentre os sabores clássicos, como "Toscana", "Napolitana", "Pesto", surgiu um outro nome italiano que, evidentemente, chamou a atenção: "Monica Belucci". Sim, ali havia uma pizza com o nome da musa italiana, e, já que a idéia era ir em busca de novidades, não tive dúvida, e pedi: quero provar a Monica Bellucci. Mesmo não sendo de pão, a massa é diferente das receitas que já havia provado, e quanto à Bellucci, em particular, ah, uma delícia! A receita leva pimenta dedo-de-moça, picante de verdade, cheguei quase a chorar. Mas como valeu! E descobri que eles tem as pizzas congeladas, aliás, essa é a especialidade do lugar, então você pode comprar e levar pra casa pra comer uma Calabrese, uma Don Corleone ou uma Monica Bellucci a hora que quiser. Mas embora o dia já estivesse perfeito, a perfeição não acabou por aí. Depois de comer a Monica Bellucci, fui à maravilhosa boulangerie Carina Barlett [farei uma postagem só sobre esse lugar, que merece muito, e como merece, toda nossa atenção] tomar um espresso daqueles, daqueles perfeitos. Ah, como a felicidade é simples. É verdade que ainda estou naquela fase de enamoramento com a cidade, na qual tudo são flores e o coração bate mais forte a cada novo ângulo que se descobre. Mas, até o momento, a vida em Porto Alegre tem sido isso mesmo, gozar os pequenos prazeres, deixar-se encantar por uma nova paisagem, por um novo gosto, por um novo cheiro, por um novo lugar, e descobrir ali aquelas coisas sofisticadamente simples que nos fazem sorrir.