domingo, 25 de abril de 2010

Stuzzi - um refúgio perto do Metrô da Vila




Hoje quero começar uma seqüencia de posts voltadas a avaliação de alguns estabelecimentos de São Paulo que servem café. Começo, é claro, pela Vila Madalena [embora alguns cafés da região já tenham sido temas de postagens anteriores]. Nessas postagens irei considerar alguns critérios que são importantes pra mim [totalmente subjetivos!], e que imagino que podem ajudar os leitores na hora de escolher onde marcar um bate papo com algum amigo ou onde fazer uma pausa para um cafézinho. Afinal, não basta o café ser bom e bem tirado. É preciso que a xícara seja adequada, que o lugar seja agradável e que o dito cujo esteja em boa companhia. Eis, afinal, os critérios: 1) Qualidade do café; 2) Qualidade da Xícara; 3) Atendimento; 4) Cadeiras e mesas; 5) Sons no ambiente 6) Acompanhamentos 7) Um "q" a mais...

Começo com o Stuzzi, que fica pertinho do Metrô da Vila Madalena, na rua Paulistânia no. 450. Depois de um dia cheio de poluição e barulho, de sobe e desce de metrô, parar no Stuzzi é quase como parar num Oasis. Há mesinhas do lado de dentro e de fora, poucas mesinhas, aliás, garantindo a tranquilidade do seu "coffee break" mesmo quando o ambiente está "lotado". E se não estiver "in the mood" para um café, certamente será difícil deixar passar a chance de provar um sorvete, porque a casa oferece um dos melhores sorvetes da cidade, seguindo uma receita italiana impecável. Figo com marsala ou chocolate belga são dois dos meus favoritos. Mas, passemos então à avaliação segundo os critérios acima propostos..   1) Qualidade do café: o café é muito bom [no seguinte ranking pessoal: ruim, tomável, bom, muito bom, excelente, excepcional], da marca ORFEU, proveniente da Fazenda Sertãozinho, do Sul de Minas. Antes eles serviam também o Eurídice, mas acho que está fora do cardápio agora, embora você encontre ambos para vender no pacote.  2) Qualidade da Xícara: a xícara é personalizada com o desenho da marca Orfeu, mas é daquelas cuja asa não facilita muito o manuseio. Pra um espresso, até que vai, mas já para um duplo ou latte, complica a situação do dedo, que encosta na xícara em queima ; 3) Atendimento: as moças que atendem são prestativas e tiram bem o café, mas às vezes ele demora um pouco pra vir, e algumas vezes chegou até mim, um pouco frio; 4) Cadeiras e mesas: as cadeiras são confortáveis, permitem uma boa acomodação das costas e as mesas têm tamanho razoável, acomodando até três pessoas, embora duas seja o ideal. Na parte interna há pufes pequenos e bancos altos no balcão, estofados, bom pra quando se está com pressa; 5) Sons no ambiente: geralmente, música italiana ou jazz, sempre num volume agradável. Como o lugar é pequeno, a conversa alheia nunca chega a ser um problema. Embora o espaço seja aberto e as mesas sejam voltadas paras a rua, os carros não são muitos, permitindo que a experiência auditiva seja bem agradável 6) Acompanhamentos: um dos pontos fortes do lugar. Não tanto pela variedade, mas pela qualidade maravilhosa dos produtos, que são pares perfeitos para o café. Da turma do "sal" tem um folhado de alcachofra com queijo chèvre que é um negócio. Da turma do doce, os meus favoritos absolutos [além do sorvete, que não é exatamente um 'acompanhante' de café, então não conta] há os muitos tipos de Brownie, dos quais provei dois, o amargo, com chocolate belga [da foto acima], e a novidade da casa, o brownie com chocolate VALRHONA. Sim Valhrona!!! Depois que provei esse nem perco tempo provando os demais. 7) Um "q" a mais...: o aconchego do lugar, ao ar livre, com boas revistas pra ler, e os doces muuuito bem feitos. Um bom café merece um acompanhamento digno.

domingo, 11 de abril de 2010

E por que café???


Semana passada encontrei minha amigona dos tempos de colégio, Mareike que eu não via há uns nove anos, e seu noivo, Gregory. Tínhamos apenas umas poucas horas pra por a conversa em dia, e eu queria pensar em alguma coisa interessante pra fazermos, que desse pra mostrar alguma coisa interessante de São Paulo. Antes mesmo do esperado encontro, soube que aquilo que eles queriam mesmo fazer era "tomar um café" em um local de minha escolha, pois este blog está fazendo com que entre meus amigos eu tenha a fama de "especialista" em cafés. Isso me fez rir um bocado, mas é claro que não podia recusar a sugestão. É claro que de especialista não tenho nada, mas o mero fato de querer dedicar um blog ao café, é algo que parece um pouco intrigante, ainda mais para alguém que não é barista, nem produtora, nem nada... Que muita gente neste país e mesmo mundo afora aprecia muito o café, fazendo de seu consumo um hábito cotidiano, não é novidade pra ninguém. Mas de onde saiu essa idéia de fazer desse hábito um motivo para dedicar linhas e linhas de escrita? O post de hoje é pra responder a esse pergunta que muitos amigos já me fizeram, inclusive Mareike e Gregory: "afinal, e por que café?"

Well, well, well. A resposta poderia ser bastante simples, algo como "porque sim, oras!", ou "porque gosto de café". Mas vou optar pela resposta menos simples, que é também a mais verdadeira, e que investiga não apenas as minhas razões pessoais, mas os motivos pelos quais o café tem se tornado cada dia mais objeto de adoração. Vejamos. Pra começar a conversa, a bebida "café" tem muita semelhança com a mais veneradas das bebidas, o vinho, embora ainda não goze da mesma reputação. Assim como o vinho, a bebida que chega a nossa xícara passou por uma longuíssima jornada, na qual estão implicados diversos fatores que determinam a personalidade final da bebida. A variedade que é plantada, a qualidade da semente, o tipo de solo no qual esta irá germinar, a quantidade de irrigação, de vento, de sol, o modo como é feita a colheita, a seleção final dos grãos, o processo de secagem, o tipo e a intensidade da torra, a embalagem, a moagem, o modo como se transforma o pó em bebida e até mesmo o formato da xícara. Quando vertemos o líquido em nossa boca podemos experimentamos o resultado de toda essa jornada, sem geralmente nos darmos conta de tudo o que há por trás desse momento. Talvez seja um pouco por isso que o café, assim como o vinho, também é envolto em certa aura de mistério. Há algo nele que nos intriga, que nos faz querer desvendar seus segredos, que nos faz querer saber que surpresa nos aguarda na próxima xícara que iremos provar. O café não é um mesmo que um suco de laranja. É bastante raro que se escute por aí alguém falando "oi, tudo bem com você, o que acha de tomarmos um suco de laranja qualquer dia desses?" ou então, "puxa, que canseira, está na hora do meu suquinho". Nem vemos músicas dedicadas ao suco de laranja, ou que o tenham lá no meio da letra. Além de ser uma bebida complexa, pelos motivos acima expostos, o café parece desempenhar um papel importante em nosso universo cultural e mesmo nas relações sociais. Há quem atribua a introdução mais sistemática do café na Europa como um dos fatores da dinamização intelectual dos séculos XVIII e XIX, até mesmo da revolução industrial, quando o consumo dessa bebida enérgica começou a substituir ou ao menos a contrabalançar o consumo de álcool, garantindo longas jornadas de trabalho ou de discussões filosóficas e políticas nos estabelecimentos que logo passaram a ter o nome da bebida, ou seja, nos cafés. O café, enquanto estabelecimento, foi uma verdadeira "instituição" durante o processe de criação da "esfera pública" européia. O que seria publicado nos jornais e nos livros não era apenas gestado no silêncio dos gabinetes ou nas festas do salões, mas, nos "cafés". Talvez no mundo contemporâneo os cafés tenham perdido um pouco esse papel de palco de novas idéias políticas, mas continua a ser um espaço em que pessoas se encontram pra conversar do filme que acabaram de assistir ou do livro que querem começar a ler - não é à toa a proliferação dos cafés em cinemas e livrarias [alias, alguns dos mais simpáticos de são paulo encontram-se nessa categoria], onde pessoas marcam encontros pra matar a saudade, pra discutir coisas do trabalho, ou apenas onde se sentam solitárias para ler o jornal. Podia continuar a enumerar os motivos. Mas há ainda um último, um pouco menos prosaico do que essa atração pelo complexo e misterioso, que é a seguinte: eu gosto muito de café, e na vida aprendi que quando se gosta de alguém ou de algo, o melhor que se tem a fazer é conhecer a fundo, pois quanto mais se conhece mais se aprende a gostar, descobre-se coisas inesperadas, vê-se o belo ou o feio onde antes não se via nada, surpreende-se, aprende-se o que há de melhor. Não é necessário ser um enólogo para gostar de vinho, ou ser um barista para gostar de café. Mas conhecer o mais que se puder, além de ser uma diversão à parte, ajuda a fazer escolhas melhores e a aprofundar a sensibilidade. Quanto mais apurada a sensibilidade, mais podemos nos deleitar com aquilo que há de melhor neste mundo, inclusive neste mundo do café.