terça-feira, 27 de outubro de 2009

A minha primeira vez



Hoje estava tentando lembrar de quando foi que comecei a gostar de café, e a resposta veio rapidamente: foi na primeira vez que provei um "café gourmet"... E a minha primeira vez aconteceu no Café do Museu, que fica, como sugere o nome, no Museu do Café, na cidade de Santos, no prédio que já foi a sede da "Bolsa do Café". Na minha casa, minha mãe e meu pai bebiam café, mas isso não era bebida para crianças. Na adolescência, especialmente quando sai de casa, aos 16 anos, até comecei a tomar aquela xícara diária, pela manhã, sempre com leite e açúcar. Bebia não tanto por prazer, mas para acordar, e também um pouco por força do hábito e por preguiça, dado que era o que bebiam as outras pessoas que moravam comigo. Até então, jamais passaria pela minha cabeça entrar num lugar e pedir por uma xícara de espresso puro, a não ser que o sono exigisse isso. Mas tudo mudou naquela tarde de Janeiro de 2001. A minha primeira vez foi em grande estilo. Tudo naquele lugar exalava café: não apenas o seu cheiro, mas a atmosfera, as idéias, as imagens. Lembro ainda como se fosse ontem. Estávamos sentados numa das lindas mesas de madeira do café que fica logo na entrada do museu. Havia vários jornais a disposição de quem quisesse ler. E nao fosse pelas noticias do dia e pelo barulho da maquina de espresso, poderia mesmo dizer que havia voltado no tempo, que estava em pleno século XIX. Para acompanhar o docinho que escolhi, vi diante dos meus olhos cinco tipos de grãos há pouco torrados e ainda não moidos. Escolhi um deles, que me disseram ser o mais suave. Não esqueçam que era minha primeira vez. tinha que ir devagar. Disseram-me que o bom mesmo era prova-lo puro, sem leite, sem açucar. Eu, reticente, verti o líquido negro e quente para dentro da boca. Foi ali que me apaixonei... Naquele mesmo dia provei ainda dois dos outros 5 tipos que ali estavam e, desde então, o café "gourmet" passou a fazer parte da minha vida e a encher meu cotidiano de sabor e alegria. As fotos acima não são daquele dia... naquela época nem sonhava em ter uma digital, e tampouco pensava na graça que poderia ter tirar fotos de cafés. Essas são de Fevereiro de 2008, quando no Museu estava sendo exibida uma mostra muito especial em homenagem aos 150 anos de imigração japonesa, cuja história coincide com a própria história do café em nosso país. Quem for a Santos não pode deixar de conhecer esse museu e provar um dos vários tipos de espresso torrados ali mesmo. Quem quiser, pode pedir para moer o café para ser levado pra casa: há diversas opçoes de moagens de grao, até para Mocha. Talvez a melhor lembrança para se trazer consigo: uma lembrança com gosto e cheiro de história. Fica na rua XV de Novembro, numero 95.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Black Gold - The Movie: Pensar não é o mesmo que Parar

O filme "Black Gold" foi lançado em 2006, e circulou pelo Brasil na Mostra de Cinema de São Paulo. Ainda não tive a chance de vê-lo, portanto, não é exatamente sobre esse documentário que escrevo aqui. Quero apenas compartilhar algumas reflexões que têm frequentado meus pensamentos desde que vi o trailer [abaixo] e li os comentários que se seguiam a ele no youtube.
Esses comentários variavam de "por isso que não tomo café" até "por que sempre que há algo de bom alguém precisa jogar um balde de água fria?". Isso, é claro, fez-me pensar. Sim, esse blog é dedicado ao amor pelo café, a todo o universo gastronômico, culural, estético e simbólico que está a seu redor. Então, pode parecer um pouco despropositado trazer para esse espaço considerações de natureza mais crítica, convidar os leitores a pensar no lado duro da história. Mas, por mais despropositado que isso pareça, resolvi enfrentar a questão. Vejamos. A primeira consideração a ser feita, é essa: embora ainda não tenha assistido, não tenho dúvidas de que esse documentário já traz consigo o grande mérito de trazer para o debate público uma questão tão relevante, que se aplica também ao caso do café, mas não apenas a isto: todas as coisas que chegam até nós, a não ser aquelas oriundas diretamente da natureza,[ou seja, a chuva que cai na cabeça, o ar que entra pelos pulmoes, e mais umas poucas coisas não mediadas pelas mãos humanas, são fruto do trabalho. Isto é, têm um valor, um valor incorporado nelas que em virtude desse trabalho. E a história da humanidade, desde sempre, tem sido a história da dominação, da apropriação do trabalho alheio. Ou seja... não falo de outra coisa a não ser da teoria do valor trabalho de Marx. Assim foi em toda civilização, assim foi com a cana de açúcar no Brasil, que dependia da mão de obra suada e sofrida dos escravos. Sim, a humanidade é extremamente lenta em seu processo de aprendizado, e muitas vezes as mudanças acontecem por razões que não necessariamente brotam imediatamente da consciência moral. No caso da cana de açúcar: o trabalho escravo passou não apenas a ser proibido legalmente, mas passou a ser repudiado pela consciência moral média [agora passamos de Marx para Durkheim...] - no entanto, ninguém disse que, dado que a produção do açúcar estava intrinsecamente ligada à mão de obra escrava, dever-se-ia parar de consumir açúcar. A questão que se impunha e continua a se impor é a de encontrar formas cada vez mais justas de produção desse bem. Agora não dá pra entrar no mérito da questão sobre o que é justo ou não, de quais as estratégias que diminuem a desigualdade, etc., coisa que estaria num nível de discussão da economia ou da sociologia econômica [que não é a minha área]. Fico mais nas questões, digamos, filosóficas do problema. O que quero dizer, é que o mesmo se aplica ao caso da produção do café [aliás, pensemos também que algo semelhante ocorre com a produção de cacau, com a extração de diamantes, etc.]. Fechar os olhos para a questão não a faz desaparecer. Deixar de tomar café não trará o bem-estar material que os produtores de café necessitam. Qual a solução do problema? Gostaria de saber, mas não sei. Claro que a idéia do projeto de "Fair Trade" [no próximo post trarei mais informações sobre isso] parece apontar para um caminho mais interessante, muito embora com grande freqüências as idéias costumem ser mais interessantes e mais justas do que a prática. Mas já são um começo.
Contudo, onde é que quero chegar afinal de contas? Em primeiro lugar, a uma defesa da proposta do documentário: o primeiro passo para a superação de qualquer injustiça é mostrar que ela existe, fazer com que a consciência moral da sociedade humana a sinta como uma injustiça. Tornar público um problema é a condição primeira para tentar superá-lo. Este é o papel crucial desse documentário e de todos os esforços concentrados nessa direção. Em segundo lugar, deixo de lado a questão da crítica e da importância da esfera pública na formação da consciência moral, para uma outra questão, menos ética, talvez mais estética não sei. O café foi, é, e continuará sendo objeto de desejo. Quanto mais se desejar um excelente café, tanto mais isso indicará um aprimoramento de nossos gostos. E acima de tudo, queria concluir com o seguinte: que sentido teria a vida, que sentido teria a abundância de bens materiais, se nossas vidas não fossem pontilhadas por esses pequeninos grandes prazeres, sejam estes assistir um filme, dar risadas, estar na companhia das pessoas que amamos, viajar num livro, ou beber uma pequena xícara com uma densa espuma de um perfumado café? Se isso é tão importante pra nós, que seja igualmente valorizado o trabalho daqueles que tornam esse prazer possível.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ekoa: latte e twitter

Eu normalmente não abro mão do espresso purinho, o black coffee legítimo. Mas hoje tá fazendo um friozinho gostoso, e ai resolvi pedir uma média, o que me remete à infância, especialmente a casa da minha avó, que, aliás, até hoje bebe um cafezinho com leite antes de dormir, quando acorda, depois de comer. É pra "sentar o pelo", como ela diz. E não foi má escolha. To de novo aqui no Ekoa café, sobre o qual já escrevi. Aliás, posto o blog aqui do café mesmo, que tem uma rede wireless excelente, rápida, gratuita, e o melhor, você pode ficar o tempo que quiser, ninguém te pressiona pra ir embora. AS atendentes, super simpáticas, aliás, só vem conferir a mesa quando as chamamos apertando um botãozinho. Aqui é tão bom que acabo perdendo o horário... agora mesmo deveria estar em casa trabalhando. Mas, sem esses pequenos momentos, que graça teria a vida? Ah, antes que me esqueça do fundamental: o café estava absolutamente perfeito, medida exata de leite, espuma quase transbordando, como se pode ver na foto. E as xícaras aqui são daquelas que deveriam ter em todo lugar: com aquela alça que encaixa o dedo e evita que queime. Como já dizia alguém, a perfeição mora nos detalhes. www.ekoacafe.com.br


Café Aprendiz


O Café Aprendiz já deve ser conhecido do público que gosta de café, afinal, vira e mexe lemos alguma indicação sobre ele nos guias de São Paulo. Não é de hoje que frequento esse lugar, e não podia deixar de fazer meu comentário. Como é possível ver na foto da xícara, o espresso tem um creme bom, não é tããão espesso, mas é bom, muito bem tirado. Ele vai bem depois do almoço, ou no meio da tarde, acompanhado de um dos vários docinhos, que são produzidos ali mesmo. Mas o que é bacana é que é um lugar simples, sem frescura, com ambiente interno e externo, mas que, ao mesmo tempo, tem todas as "frescuras" indispensáveis, ou seja: há uma variedade de tipos de açúcar e adoçante, para quem gosta do café mais doce; tem o copinho de água com gás, pra limpar o paladar. O antendimento é muito bom: são os próprios jovens do projeto aprendiz, verdadeiros profissionais. É pena que o lugar feche cedo, às 18:00, se não me engano. Enfim, é mais um daqueles lugares em que dá pra esquecer da vida, ou refletir sobre ela. No calor, é sempre muito fresquinho, especialmente na área externa, com uma sombrinha gostosa. Ah, ele fica numa daquelas ruas quase escondidas da Vila Madalena, embora seja muito fácil de chegar: é na Belmiro Braga, uma rua de apenas um quarteirão, que fica entre a Inácio Pereira da Rocha e a Cardeal Arcoverde. Pra quem quiser conhecer mais sobre o espaço e sobre o projeto Aprendiz, é só conferir o site: www.cafeaprendiz.com.br